terça-feira, 19 de abril de 2011

Abaixo as Frutas e Devolvam o Creme Brûlée



Aonde foram parar os elogios elogiosos? Algo mudou. Antes via as mulheres serem chamadas de bonita, linda, princesa (esse faz uma linha Wando eu sei, mas era passável) e uma gostosa de vez em quando, até que cabia dentro de um padrão de normalidade.
Hoje o que ouço é preparada, purpurinada, potranca, popozuda, cachorra, fora quando não aparece um tigrão te nomeando de tchutchuca querendo que você vá até ele, entre outros adjetivos que prefiro nem comentar. “Tá dominado! Tá tudo dominado! Tá ligado?!”. A moda agora é ser fruta! Melão, melancia, moranguinho, jaca...e quando a mulher engorda ou envelhece vira o que? Um maracujá-azedo e murcho, uma uva-passa?!
Na “curtura” do nosso país há muitas frutas para poucas flores, gentilezas, amor, romantismo, poesia, sutileza, compaixão, elegância, apreciação dos detalhes, do belo, dos gestos mais simples, inocentes, humildes e verdadeiros. A saudade bate forte na porta trazendo um punhado de lembranças. Que saudade de coisas à moda antiga! De piquenique, algodão doce, luz de velas, rosas vermelhas, beijinho na mão, dançar coladinho, caminhar de mãos dadas em lugares especiais em contato com a natureza, chá com biscoitos naquela xícara clássica da vovó, livro velho com flores fazendo o papel de marcadores de todas as cores, filmes antigos, banho de chuva a dois sem a preocupação de se molhar ou sair correndo, cheirinho de tinta fresca no papel recém saído da máquina de escrever, a porta do carro sendo aberta por alguém especial, com um sorriso terno e agradável nos lábios, pérolas e poás, cartas escritas com letra de gente e não com letra de robô. 
O romantismo não está resumido e delimitado apenas na relação entre duas pessoas. É uma forma de agir, uma atitude perante a vida, um modo de se comportar e de interpretar a realidade. Um romântico, independente do tempo na história, do mundo moderno que vivemos e de toda a tecnologia que usufruímos com muito prazer, sonha, se encanta, tem capacidade de admirar várias vezes as mesmas coisas, não segue afirmações absolutas, pensa, reflete, questiona, se emociona diante das situações e pessoas. Não tem sentimentos de inadequação por ter gestos sensíveis numa sociedade, onde geralmente o antigo nem sempre é visto com bons olhos! (a não ser no mundo da Moda com as presenças do retrô e do vintage, o retorno do xadrez, das flores nas roupas e nos cabelos).
Hoje a modernidade e os seus recursos são praticamente condições sine qua non para a sobrevivência, entretanto, cabe a mim, a você e a qualquer um que esteja interessado em recuperar a magia adormecida em si mesmo, ser um artista do seu cotidiano, cultivar o amor por tudo de bom que nos cerca, perceber o mundo com olhar de curioso, valorizar o clássico, que ainda não está perdido e clama por um pouquinho de atenção. “Gentileza gera gentileza”. Ter força de vontade para exercitar a gentileza, faz do indivíduo um ser generoso, carismático e de repente, sem que ele perceba estará rodeado de pessoas, que vão querer ser presenteadas com o seu gesto gentil e a vida pode ter um novo sabor.  Gentileza é uma virtude e também prima do amor!
“...o mundo é uma escola. A vida é o circo. Amor palavra que liberta. Já dizia o Profeta”. (Marisa Monte)

2 comentários:

  1. Vanessa,

    Entrei no túnel do tempo com seu texto...
    Retratou, perfeitamente, como me sinto diante desse mundo "modernoso" que aos poucos vai perdendo o charme, deixando para trás tanta coisa gostosa, que só quem passou consegue medir!!!

    Coloquei um trechinho do seu texto no meu blog!!! Tá ?!?

    bjsss

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  2. Sim, sinto o mesmo, hj em dia o romantismo e os pequenos gestos e detalhes que o acompanham, que eu tanto adoro, infelizmente, na maioria das vezes são vistos como caretas e ultrapassados.
    Qto ao trechinho, sem problemas, fique à vontade!
    Beijoo

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